quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

amor de gaveta






excetuando as verdades universais, acho que todos tem que definir suas próprias verdades, ou seja – a verdade é relativa. “a Terra é um geóide”; “ a gravidade nos permite manter os pés no chão”; “o oxigênio nos é vital”. essas afirmativas são verdades para você assim como são para mim. 

“o amor acaba”. isso pode ser verdade para você, mas para mim, não é. eu não acredito no fim de um amor, ou ao menos daquilo que é amor para mim.

amores são como roupas que eu não uso mais. chega uma hora em que eu cresço e eles não; não convém no meu contexto de vida. mas por terem me marcado, adquiriram uma importância que me impede de jogá-los fora. é, eu sou saudosista e gosto de guardar certas ‘coisas’. tenho guardado em uma sacola, lá em Espera Feliz, o macacãozinho que vestia quando saí do hospital, recém nascida. as vezes, quando tenho vontade de revê-lo, vou em casa, tiro-o da sacola, deixo tomar sol para amenizar o cheiro de mofo... obviamente não o uso, mas gosto de saber que ele está lá, e com ele minhas lembranças mais remotas. assim é também com a roupa de paquita do 7 de setembro na época de grupo; com as camisas assinadas pelos amigos do colégio; com o vestido do primeiro recital de piano... não são como aquelas roupas que você guarda por saber que a moda pode voltar a pedi-las... mas guarda só para ter uma gaveta para abrir quando a solidão bater, e com ela ocupar os pensamentos com a nostalgia e distrair-se com os espirros pelo cheiro de ‘coisa guardada’.

para mim, tudo o que está guardado remete ao desuso. por isso não me comovo ao ouvir Milton Nascimento dizer que “amigo é coisa para se guardar”. quando guardo um amor (seja ele o de uma amizade, ou não) é porque ele não faz parte da minha vida mais; porque não posso aproveitar-me dele para ser feliz AGORA, como talvez tenha feito antes; porque ele não me acrescenta mais nada.
quando faço isso não deixo de amar, simplesmente guardo.

os amores que tenho guardados em mim não me despertam paixão. taí, acho que é isso: amor sem paixão = roupa que não servirá nunca mais, mas que por ter sido especial, merece ser guardada.