terça-feira, 27 de junho de 2017

insone.



imaginei luzes em ribalta, desfiz as malas
deixei três gavetas pra você no armário,
coloquei na vitrola aquele nosso bolero
espalhei flores amarelas no nosso quarto

enquanto a música tocava
fui bailarina em noite de gala,
dançando ao som das nossas risadas
compondo pra Chico, te chamando de casa

um descuido com a métrica e a rima cessou.
a verdade não dita das palavras perdidas
calou a canção que tocava no céu.
o teto caiu, o chão ruiu.

acordei com a música arranhada, o vinho ainda na taça.
o escuro chegou, apagou minhas luzes
e tem esse frio que entra 
pra lembrar que esqueci a porta aberta.

e agora, onde está sua voz neste silêncio que me despe?
e o calor do seu abraço, que aconchega a nudez da minha alma? 
sem o seu olhar, bussola do meu caminho
me diz agora, como andar assim, sozinho?

 porque sua chegada não foi anunciada, 
a partida também precisa ser assim?
você chegou sem hora marcada
e agora pára o tempo ao sair de mim.

tudo foi um sonho que irrompeu a madrugada?
ou um pesadelo pra me roubar o sono?
acordei e estou aqui pensando se fico ou se abandono
essa ideia de sonhar com esse amor insano.



sexta-feira, 9 de junho de 2017

o sempre de hoje é dia





 sempre tem aquele dia que a gente não quer que amanheça.

pede pras horas correrem rápido,

torce por um hiato, um eclipse, um lapso

e reza com toda fé pra que logo anoiteça



mas a gente sabe que mesmo que isso aconteça,

o dia não finda dentro do peito

permanece o sol desértico, esse clima árido

que castiga e impede que a dor adormeça



e então a gente descobre que não tem álcool

que apague esse fogo que arde,

chama posta sobre madeira nobre

que queima devagar, sem fazer alarde.



sempre tem aquela noite que se faz dia

que não deixa sonhar os sonhos que a gente queria.

a alma confusa, a cama vazia

e a gente puxa o edredom, mas a pele continua fria.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

maravilha (é ser) mulher









muito mais que retratar uma história dos quadrinhos, MULHER MARAVILHA se faz uma sinopse da vida de muitas mulheres. é uma mensagem sobre acreditar em si mesma e aprender a não duvidar da própria força. saber que às vezes a vida te surpreenderá com perdas que doerão na alma. entender que nem sempre você vai corresponder às expectativas das pessoas q vc ama, e vai precisar escolher entre apropriar-se da própria vida ou continuar deixando-a nas mãos de alguém. sobre não fugir daquilo que te move e dar lugar à coragem para sair da zona de conforto e "navegar em mares nunca dantes navegados" até o mundo que você desconhece, mas que sabe estar à sua espera. sobre fazer a diferença nesse mundo, a despeito dos disfarces e anseios de uma sociedade que te quer calada e omissa. sobre aceitar e enfrentar o desafio de sobressair, liderar, e sentir que as pessoas só acreditam em você depois de vê-la em ação e, apesar disso, saber esperar o momento certo de se mostrar. entender que nem todas as batalhas são suas e que às vezes é preciso continuar a caminhada mesmo q as circunstâncias te desmotivem. sobre ser traída por quem parecia querer ajudar. e, acima de tudo, uma lição sobre o amor. esse amor forte capaz de mudar o mundo - o próprio mundo e esse outro em que estamos todos inseridos. e saber que a força do amor é suprema à qualquer investida de guerra, inclusive àquela q travamos em nós mesmos. sobre saber que a sensibilidade inerente à mulher, que a torna capaz de viver esse filme diariamente,  faz dela  'mulher maravilha'  todos os dias.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

ressaca.

abri um vinho e quis ouvir
aquela música que nos despia,
pra vestir de bem querer
aquele amor que me consumia.

me fiz mulher sem saber ser,
travei infidelidade a mim
pra ser fiel a você,
apagando a brasa do meu querer.

de sangue e suor me compus,
pra cantar a música que você escreveu.
cantei em versos rimados
a lua do amor que nunca cresceu.

hoje bebo esse vinho tinto
desnudo de cor pra te cobrir
com o manto sagrado do perdão
que bordei e deixei aqui dentro do coração.

profano desejo de pertencer
a um amor que só em mim eu vi nascer.
na finitude do sempre que você calou,
está a mulher que outrora fui, e não mais sou



sem teto

sobre chegar em casa e não te ter
e sair de lá sem você estar.
sobre viver lá fora sem preocupar
se vou chegar à tempo do jantar.

sobre não ter que olhar o relógio
e também não ter hora marcada.
porque não importa se dia ou madrugada:
a casa vai estar vazia, a cama desocupada.

é como sair de casa e não escovar os dentes,
e chega de volta sem tirar as lentes
é sumir no breu do beco escuro
e esperar em vão seu abraço seguro

como aprender essa nova vida,
se a que você levou era a que eu queria?
mesmo a nossa mentira dividida
era a felicidade plena, apesar de sofrida

queria agora seu olhar sincero
mesmo sabendo que era vazio a me afogar.
queria no seu abraço quente me aconchegar,
queria o tudo, o que eu sabia ser eterno

diz mais uma vez que não vivi a sonhar,
só pra eu tentar acreditar?
enfim, de novo o frio a me calçar os pés
pra lembrar que a vida é não saber papéis.