imaginei luzes em ribalta, desfiz as malas
deixei três gavetas pra você no armário,
coloquei na vitrola aquele nosso bolero
espalhei flores amarelas no nosso quarto
enquanto a música tocava
fui bailarina em noite de gala,
dançando ao som das nossas risadas
compondo pra Chico, te chamando de casa
um descuido com a métrica e a rima cessou.
a verdade não dita das palavras perdidas
calou a canção que tocava no céu.
o teto caiu, o chão ruiu.
acordei com a música arranhada, o vinho ainda na taça.
o escuro chegou, apagou minhas luzes
e tem esse frio que entra
pra lembrar que esqueci a porta aberta.
e agora, onde está sua voz neste silêncio que me despe?
e o calor do seu abraço, que aconchega a nudez da minha alma?
sem o seu olhar, bussola do meu caminho
me diz agora, como andar assim, sozinho?
porque sua chegada não foi anunciada,
a partida também precisa ser assim?
você chegou sem hora marcada
e agora pára o tempo ao sair de mim.
tudo foi um sonho que irrompeu a madrugada?
ou um pesadelo pra me roubar o sono?
acordei e estou aqui pensando se fico ou se abandono
essa ideia de sonhar com esse amor insano.