sexta-feira, 2 de junho de 2017

sem teto

sobre chegar em casa e não te ter
e sair de lá sem você estar.
sobre viver lá fora sem preocupar
se vou chegar à tempo do jantar.

sobre não ter que olhar o relógio
e também não ter hora marcada.
porque não importa se dia ou madrugada:
a casa vai estar vazia, a cama desocupada.

é como sair de casa e não escovar os dentes,
e chega de volta sem tirar as lentes
é sumir no breu do beco escuro
e esperar em vão seu abraço seguro

como aprender essa nova vida,
se a que você levou era a que eu queria?
mesmo a nossa mentira dividida
era a felicidade plena, apesar de sofrida

queria agora seu olhar sincero
mesmo sabendo que era vazio a me afogar.
queria no seu abraço quente me aconchegar,
queria o tudo, o que eu sabia ser eterno

diz mais uma vez que não vivi a sonhar,
só pra eu tentar acreditar?
enfim, de novo o frio a me calçar os pés
pra lembrar que a vida é não saber papéis.