terça-feira, 16 de maio de 2017

rara flor



acabei de lembrar de um jogo de lençol lindo que eu estava guardando pra quando você viesse dormir aqui e decidi colocá-lo na cama. dormir em casa é algo raro pra mim, então hoje é a ocasião especial que eu estava esperando. você não vem hoje e, pode ser que também não esteja amanhã... e talvez por isso eu entendi que estrear lençóis é uma coisa pra eu fazer comigo mesma. 
hoje seu silêncio gritou alto aqui dentro, e eu ouvi que agora sou eu por mim. quis alguém pra me cuidar e precisei ser a pupila do meu próprio olhar.
tô ouvindo bolero sem a preocupação de estar importunando com meu gosto musical peculiar... vou abrir uma cerveja sem me importar qual dia da semana é hoje... assisti aquele filme que você indicou, pela sexta vez. a primeira vez foi por você. a segunda, pelo que eu queria com você. a terceira, pelo que eu esperava de você. da quarta em diante, por mim - pra decorar as falas, pra conhecer as personagens, pra ouvir a trilha sonora depois de o filme já ter acabado... isso, é isso mesmo: tô aprendendo a ser o que você queria: independente. independente de você. de você e de quem quer que seja. aliás, melhor que isso: voltei a escrever pra mim. voltei a conversar comigo com as palavras, que de novo são rio correndo fluidas, livres, leves (ou não), sem obrigação de concordar com a palavrinha de baixo porque hoje (e agora), a sonoridade do meu pensar não precisa mais ser melódica aos seus ouvidos. 
não vou radicalizar, pode ser que amanhã eu queira rimar. mas deixa eu falar dessa sensação que há tempos eu não sentia: de fechar os olhos e deixar os dedos deslizarem pelo simples prazer de me ler. isso, de me saber, me descobrir, me despir, me vestir. prazer, eu. 
não tem revolta, não tem despeito, naõ tem desdém. tem a mulher que eu sempre ouvi ser, enfim, sendo! tem o sentimento exagerado, que é meu jeito de sentir. tem o peito rasgado, que é meu jeito de viver. tem a flor rara de me saber dona do perfume, cor da minha primavera, morada do próprio querer, oásis do próprio deserto, aprendiz de mim e de me fazer ser.