quarta-feira, 22 de setembro de 2010

.minha árvore.



em minha última viagem pra casa, no feriado de setembro, ocorreu-me um pensamento e lamentei a falta do meu caderninho de anotações, sempre à mão. eu o havia deixado na mala que estava no bagageiro. na falta de ter algo para prender a idéia, rascunhei algumas palavras no celular e continuei vendo através da janela, a árvore que me trouxera os pensamentos à mente.
durante a viagem a paisagem não muda muito, já que a predominância das montanhas é a peculiaridade do relevo local. entretanto, uma coisa estava diferente: o verde não estava verde, mas num tom amarronzado oriundo da poeira que denunciava a secura do solo e a falta de vigor das plantas, sedentas por uma chuvinha.
no alto de uma montanha, vi uma árvore linda. certamente pela distância, não a considerei alta, mas a copa ampla fazia com que a sobra fosse enorme e convidativa em meio ao pasto seco e tão fortemente ensolarado. ao ver a árvore, pensei na minha família.
e é agora que deixo a descrição da paisagem para falar da analogia que me veio à mente.
existem pessoas que são como aquela árvore no meio da imensidão seca – parecem milagre, dão abrigo do sol, atenuam a força dos pingos da chuva, saciam a fome e ainda guardam nosso sono.
vejo o mundo como um grande espaço amostral composto por elementos que podem ou não ser combinados entre si. a possibilidade da combinação não é determinada pela natureza deles, mas pelo resultado que se originará da reação. (não gosto muito de química, mas ouso utilizar o pouco conhecimento que tenho dela para ilustrar minha teoria.) é como se no mundo inteiro existissem umas poucas pessoas que combinadas à você, evidenciariam a sua pior parte, ao passo que algumas outras faria o contrário. o restante seriam ‘partículas neutras’. não que as primeiras sejam pessoas más, de caráter dissimulado ou valores deturpados, não. mas elas possuem alguma característica que combinada à uma outra sua não resultaria em boa coisa. esse tipo de associação pode arruinar a vida de quem tem a infelicidade de ser parte dela. com os olhos cegos, podemos ser um alvo fácil e ceder à manipulações tão inconscientemente impostas que teríamos como verdade algo que sempre defendemos ser mentira, consideraríamos virtude adjetivos que são universalmente condenados como defeitos, preferiríamos a pessoa que nos ‘faz mal’ aos que nos querem bem, e isso tudo se daria de maneira tão sutil que elegeríamos como melhor amigo (a) aquele que nos afastasse da nossa própria família. ainda assim, insisto em dizer que a história não teria vilão. é como pimenta e olho - não existe um vilão, mas os dois não combinam e se houver insistência o resultado é doloroso.

as ‘partículas neutras’ seriam os colegas, aqueles que não lhe despertam nem o bem nem o mal, os ‘mais ou menos’, os que simplesmente coexistem com você.

o outro grupo, que faz o contrário de evidenciar o nosso pior, ou seja, evidencia o nosso melhor, são a família e os amigos. ah, que BÊNÇÃO é tê-los! cada um possui uma característica que combinada à outra sua vai desenvolver uma virtude e fazer de você alguém melhor. existem os que vão lhe acrescentar amor, inteligência, seriedade, leveza, simplicidade e tantas outras qualidades que apesar de já existirem estavam à espera de um catalisador que as fizesse ser mais notória. e são à essas pessoas que eu devo o que sou hoje. depois da experiência que me fez ter essa idéia de que relações são análogas às reações químicas, passei a empenhar mais vida ao cultivo das verdadeiras amizades, a começar pelos meus pais e irmãos e estender-me aos verdadeiros amigos, cujos nomes nem precisam ser citados. sinto-me plena ao suspirar e poder agradecer a Deus por cada vida que VIVE comigo. levantar-me depois de uma queda não seria possível não fossem as mãos sinceras que me são estendidas. recomeçar não teria motivo senão o de querer continuar saboreando os dias ao lado de pessoas que tão singularmente eternizam momentos em minha memória e adornam o meu coração.
essas são a minha árvore em meio o nada desertificado, minha sombra em meio ao sol causticante. árvore de tronco forte e inquebrável, de raízes profundas e inabaláveis.

o que seria eu sem os que me reafirmam os valores e corroboram minha identidade?