ao invés de me culpar por aquilo
que dá errado, tenho que aceitar que
algumas coisas simplesmente não dão certo. não deram, não dão e nunca darão.
independente do esforço que eu faça. egoísmo não é apenas querer tudo pra si,
mas também julgar-se importante ao ponto de ser causador dos erros do outro... erros
inerentes ao caráter do outro.
o relógio biológico do mundo não
é programável, ele está fadado a continuar girando, e não há como fazê-lo
voltar. por isso, nesse exato minuto, as palavras e as atitudes, e as lágrimas
ou sorrisos consequentes à elas serão eternizados na memória de quem as falou e
ouviu. nunca poderão ser apagadas. nem mesmo um pedido de desculpas conseguirá
extinguir o estardalhaço que causaram ao entrar dilacerando as entranhas da
razão. porque apesar de tão convicta e inabalável, nem mesmo a razão resiste ao
furor de uma palavra e de seus estilhaços. aliás, ‘desculpas’ hoje são uma
forma de amenizar a própria culpa, não de acalentar a quem se faz o pedido.
‘ame a si mesmo e às suas vontades.
ame seus desejos, seu ar, suas narinas e seus pés.’ depois disso, pense em amar
outro alguém. amar dói, mas ninguém avisa isso pra gente. o amor é pintado,
escrito e cantado com o bom príncipe no cavalo branco... mas na verdade, é um
cavalheiro rebelde e indolente, que se satisfaz nas lágrimas pela madrugada,
nas refeições perdidas e nas cartas inacabadas. e além de tudo, o amor é
frágil. não o sentimento, mas o coração que o carrega. frágil no sentido de não
sobreviver ao deserto da indiferença. ele pode caminhar por algum tempo, mas
quando o sol causticante da desilusão ofusca os olhos, impedindo que o
horizonte seja contemplado, não há como prosseguir. e não há miragem que mude
essa realidade.
palavras ditas em uma noite não calam a voz daquelas que não foram ditas durante anos. ceder não é permitir. exigir
respeito, consideração e compreensão é
ultrajar o próprio ego. é despir o coração e render-se ao escárnio. se for preciso exigi-los, é porquê já
deixaram de existir há tempos. e sem respeito, não há mundo.
por falar em mundo, se o ar deste
em que vivo é rarefeito demais ao ponto de tirar-lhe o fôlego, tenho que avisar
que não há recurso pra que você continue vivendo nele. e na verdade, nem eu sei
mais se te quero respirando comigo.